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sábado, 21 de maio de 2011

Senhor, tu habitas no inacessível e operas no mistério. Sei que te aproximas do abatido e do contrito, por isso, peço-te: Ouve meu clamor, pois meu pecado está diante de mim e não arvoro nenhuma virtude para ser aceito por ti. Não pretendo impressionar- te com falsas onipotências; sou carente de tua misericórdia.

Não te imploro que me poupes das contingências da vida. Estou disposto a trafegar existencialmente por estradas esburacadas e cheias de remendos. Abro mão de imaginar-me blindado e que não experimentarei percalços, doenças, mortes ou angústias. Não, Senhor meu, não espero uma sorte melhor do que a de milhões de irmãos meus. Cada vez que tento orar por algum favor material, sinto-me péssimo. Lembro-me do Sermão da Montanha e, por reconhecer teu cuidado e tua graça, proíbo-me de pedir-te comida e vestimentas. Como posso suplicar que te concentres em mim quando existem milhões sofrendo miseravelmente nas redondezas das grandes cidades? Não posso me considerar único quando existem inúmeros idosos morrendo antes de conseguirem ser atendidos nos hospitais públicos. Dá-me a graça de buscar em primeiro lugar o teu Reino.

Sou um pequeno burguês que jamais poderia pedir-te qualquer benefício além do que já tenho. Antes de bater em tua porta, assalta-me a visão de mães carregando seus filhos com paralisia cerebral para intermináveis sessões de fisioterapia; vejo as casas de taipa sem feijão; não posso evitar as cenas de meninos com latas d’água na cabeça. Como ansiar por privilégios enquanto existirem Darfur, Luanda, Nampula, Mumbai, Pirambu e tantos lugares esquecidos?

Espero de ti um coração de poeta que sofre com a angústia não percebida dos esfomeados. Dá-me uma zanga profética para encarnar tua ira diante da injustiça. Imploro-te o saber do cientista social para explicar os porquês da rapinagem do sistema econômico selvagem que promove tanta desgraça.

Quero achegar-me à sala do trono e achegar-me ao misterium tremendum, onde os anjos escondem o rosto, para ouvir de teus lábios o mandado de levar adiante a tua causa. Dá-me o teu Espírito para que nunca me intimide diante do olhar sisudo dos confortáveis. Permita que eu encarne o teu poder compassivo e expresse tua missão.

Aspiro um coração manso e um espírito tranqüilo para viver com integridade. Espero poder estender minha mão para quem tombou na beira da calçada. Reconheço que muitas vezes me acovardo com a agonia humana. Não quero esconder-me atrás de afirmações religiosas. Se evito ajoelhar-me diante dos piores pecadores para não lhes lavar os pés, não sou digno de chamar-me teu discípulo. Por isso, preciso aprender a capturar a essência do que significa participar de teus sofrimentos. Se ainda não assimilei o valor de abrir mão da vida para ganhá-la, de perdê-la para achá-la, é porque não aprendi que o grão de trigo precisa morrer para dar muito fruto.

Peço-te que me ajudes a enfrentar corajosamente os riscos e os acasos deste mundo perigoso, hostil e imprevisível. Entendo que viver sem apelar para socorros mágicos e extraordinários continua difícil demais para mim. Assim, instrui-me e tua Palavra será suficiente para que eu organize minhas escolhas. Espero poder afirmar: “Bastam-me tuas verdades e princípios para que eu seja mais que vencedor”.

Em momentos tristes, ajuda-me a repetir as palavras de Jesus: “Agora meu coração está perturbado, e o que direi? Pai, me salva desta hora? Não; eu vim exatamente para isto, para esta hora. Pai, glorifica o teu nome!” (Jo 12.27,28). Preciso de tua companhia para resistir à tentação de esperar livramentos que me pouparão da arena da vida. Assim eu seria um covarde. Não quero que teus inimigos digam que eu te sigo como uma fuga. Não pretendo viver alimentando ilusões em nome da esperança.

Pai, põe um guarda em meus lábios para que não jorrem palavras irresponsáveis quando falar contigo. Sei que posso ter o mesmo sentimento que houve em Jesus, que se esvaziou de toda pretensão onipotente para doar-se amorosamente pelos seus irmãos.

Silenciosamente, eu me prostro e suplico: “Ajuda-me a andar humildemente ao teu lado fazendo o bem e praticando a justiça, e isso será tudo”.



Amém.

Ricardo Gondim
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